Estou com Marcião e nunca percebi essa insistência cristã em fazer suas as escrituras hebraicas, que foram agrupadas debaixo dessa denominação estranha de Antigo Testamento. Ambas as religiões têm em comum a defesa do conceito inovador de deus único e a rejeição veemente do sincretismo religioso, que se manifesta numa política de exclusividade religiosa. Contudo, as semelhanças terminam aí e entre Javé e o deus de Jesus não há pontos de contacto. Os cristãos aproveitam do Antigo Testamento apenas o que lhes convém, como se usassem uma bengala da qual não precisam, mas que lhes dá segurança. Voltando a Marcião, é dele a ideia de adoptar uma teologia totalmente cristã rejeitando os escritos hebraicos. Para tal compilou no século II um cânon inicial de textos sagrados, que incluia sobretudo as cartas de Paulo. O seu cânon e as suas ideias foram considerados hereges e Marcião expulso da Igreja. Mas este foi também o ponto de partida para a elaboração por parte da Igreja de uma lista de textos sagrados aceites, a.k.a. bíblia. O trabalho demoraria séculos e ainda hoje está aberto a discussão, com diferentes denominações cristãs a adoptarem textos diferentes. (e o novo da Norah Jones, já ouviram? Chama-se Happy Pills)