O Táxi*
Ela andava sempre de táxi e os taxistas a adoravam. Entrava no carro, eles piscavam o olho ao colega do lado, porque ela era menina e tinha ar bem-comportado. Sentava-se, dava ordens. Vire à esquerda, contorne a rotunda, pare aqui, a máquina obedecia-lhe e ela sorria encantada, porque quando era pequena sonhava ser monarca absolutista. Luís XIV ou a Rainha de Copas, cortem-lhe a cabeça, diria ela e com a doçura de um ditador obrigaria todos a serem felizes. Ninguém ama mais o seu povo que um rei iluminado que força o seu país à limpeza e à excelência, pensava ela. Mas nasceu na época da democracia, onde todos falam e fingem que são iguais. Então, abandonou seus sonhos infames de infância, mas não sabia ser popular, porque se achava esclarecida. E Freud não diria nada desse complexo de superioridade, porque ele também, dissecando as perversões da nossa mente, se sabia melhor que os outros. Seus sonhos de criança renasciam no imperativo do táxi e, quando saía, o motorista esperava sempre um pouco para que ela acabasse de puxar a cauda do seu vestido comprido.
* (texto de ficção não publicável, que estava na minha gaveta)
* (texto de ficção não publicável, que estava na minha gaveta)