Ando a ler The Bible As It Was do John Kugel. Quase desisti na introdução, porque o autor fazia constantemente comparações entre os tempos bíblicos e os dias de hoje, como se tal fosse necessário para percebermos do que falava.
Agora passei finalmente para os capítulos em que analisa o texto bíblico e estou encantada. Kugel explica como muitas ideias que persistem acerca dos episódios relatados no texto sagrado (o seu livro debruça-se apenas sobre o Antigo Testamento), não têm origem na própria Bíblia, mas nas conclusões dos exegetas que a interpretaram. Ou seja, hoje atribuímos certas conotações a episódios bíblicos que são fruto de uma segunda leitura (ou comentário) que ainda hoje perdura. Kugel defende que esse trabalho de exegese sempre existiu, sendo contemporâneo da própria elaboração dos textos. Ou seja, mal foram escritos logo foram sujeitos a análise e, mesmo os textos bíblicos tardios, contém essa componente de exegese sobre textos anteriores (ou seja "clarificam" ambiguidades dos textos iniciais).
The Bible As It Was é um exercício muito interessante sobre o escrito e o não-escrito (tantas vezes mais importante) que nos leva também para a discussão mais lata do canónico versus apócrifo.
(Adão e Eva, cuja história está carregada de simbolismo e interpretaçães várias, aqui num quadro de Rubens, c. 1597)