Acontece-me, tantas vezes, querer traduzir aqui o entusiasmo que sinto pelas coisas que leio e depois sentir-me incapaz de condensar essa imensidão nos posts que escrevo. Isto a propósito de Sexual Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson de Camille Paglia, que termino agora de ler. O livro é exactamente como achei que seria: monumental, polémico, erudito e ao mesmo tempo cheio de disparates.
I argue that Judeo-Christianity never did defeat paganism, which still florishes in art, eroticism, astrology and pop culture, argumenta ela no prefácio. E que maravilhosa proposta de tese é esta. As páginas seguintes são uma gigantesca viagem pelos movimentos artísticos (com grande enfâse nos movimentos literários) que definem a cultura ocidental. Pena é que Paglia, discipula de Harold Bloom*, partilhe o desdém deste pela cultura francesa e alemã. Mas apesar dos defeitos que a obra possa ter, leiam. Não prometo que vá mudar a vossa vida, mas vai fazer-vos pensar.
*A obra de Paglia deixa O Cânone Ocidental de Bloom (escrito posteriormente) a milhas. Embora as propostas de trabalho de ambos sejam diferentes, os dois autores acabam por analisar as obras fundamentais que definem o culturalmente o ocidente.