O sedentarismo trouxe à espécie humana a clarificação de papéis. A vida do homem decorria em dois espaços: o doméstico e o exterior. Por contraste, o espaço das mulheres era uno e contínuo. Ou seja, a casa era simultaneamente o seu lugar privado e o local de trabalho. Desde cedo se verificou essa sobreposição de esferas da sua vida. Mas, o tempo também era diferente consoante o género. O tempo dos homens era organizado e finito. As suas tarefas tendiam para um objectivo, mediam-se pela sua finalidade. E sair de casa para as cumprir era romper com o ritmo cíclico da domesticidade. Era ganhar um espaço de evasão e de fuga. Por oposição, o tempo feminino era confinado e biológico. Não havida propriamente um início das tarefas ou o seu fim, porque estas se sobrepunham de manhã à noite. É isto, a propósito desse grande acontecimento que foi as mulheres terem começado a trabalhar massivamente fora de casa algures no século passado. (E não, este não é um post feminista)
(Quadro de John William Godward, 1920)
(Quadro de John William Godward, 1920)