26 March, 2012

Gaveta #2

A Bateria*
Nós estávamos sentados no café mais antigo de Lisboa, onde moram os poetas mortos que tomavam absinto e deixaram suas frases escritas nas mesas. Madeira escura, letras gastas, balcão de mármore e empregados a sério. Naquela noite havia turistas que fumavam e bebiam o café queimado que se tornou uma coisa típica. Eles bebiam essa coisa horrível como os exploradores provam insectos na selva, para depois dizerem que tinham sobrevivido. Então entrou uma menina sueca com uns cabelos impossivelmente loiros e tu, que tocavas bateria muito alto para não me ouvires, olhaste para ela subitamente mudo. Imobilizado durante muitos segundos. Uns seis ou sete, diria agora eu. Foi então que naquele silêncio inesperado, eu ouvi com clareza o barulho agitado dos tambores que batiam também dentro de mim e foi então também que percebi que tens uma fraqueza por loiras. E era por isso que gostavas de mim.
* (texto de ficção não publicável, que estava na minha gaveta)




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